Onde é que guardo o tempo? Posso agora dizer-vos que é dentro dos olhos. Mesmo que se conservem assim límpidos acabam por pousar neles algumas folhas. Procuro depois que seja mais fácil este caminho onde se encontram os vestígios dos meus passos, de qualquer encontro, de um gesto ainda furtivo. Quantas sombras existem aí e me pertencem? Sei que o repouso é menos que uma palavra. Talvez cheguem as mesmas ondas que julgávamos estar há muito esquecidas, a neblina parece ser um arco onde se reúne o que ficou abandonado para sempre. É assim que começo a medir o tempo. Alguns instantes reservo-os para a profundidade da água; outros para o modo como as minhas mãos estremecem.
Quando a amada oferece o seu corpo, ela sabe que dos frutos apenas se colhe o sabor. É então que os dedos separam as películas, que a lâmina desce e a água e o fogo se misturam. E é então que a vida e a morte convivem sob o mesmo tecto.
Espáduas brancas palpitantes: asas no exilio dum corpo. Os braços calhas cintilantes para o comboio da alma. E os olhos emigrantes no navio da pálpebra encalhado em renúncia ou cobardia. Por vezes fêmea. Por vezes monja. Conforme a noite. Conforme o dia. Molusco. Esponja embebida num filtro de magia. Aranha de ouro presa na teia dos seus ardis. E aos pés um coração de louça quebrado em jogos infantis.
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando de vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal... Quando se vê, já terminou o ano... Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado... Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas... Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo... E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
A beleza é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la - mas quem consegue descobre tudo.